“A thing of beauty is a joy for ever”,
John Keats (1795 – 1821) in “Endymion:
A poetic romance” (1818)
Começou por um passeio nas dunas em Árvore com zonas protegidas por passadiços a perder de vista, entre a vasta praia e as zonas interiores de reserva ornitológica. Manhã de nevoeiro, a luz coada e fresca a pedir camisola. A ver se nos dávamos bem, aquele território e nós. Foi um encontro feliz: a casa na vizinhança a tornar-se mais realidade do que projeto adiado.
A fotografia foi definitiva na ligação afetiva ao espaço, na descoberta das suas imagens sempre diversas em luz e formas: as dunas e as suas formas plásticas, nuas ou cobertas de vegetação de aridez viva.
A curiosidade relativamente aos sistemas dunares veio a seguir à interiorização gradual da beleza do lugar: as dunas são “entidades instáveis” com milhões de anos; são galerias naturais de biodiversidade de plantas e animais; são “uma das evidências do equilíbrio necessário entre os diversos elementos da natureza, que precisam estar sempre em harmonia”. *
São, nos nossos dias, uma evidência da fragilização do mundo natural pela pressão e ocupação intrusiva do ser humano.
Tudo é poetável. A frase de Ana Luísa Amaral como um desafio para representar a situação atual da relação do natural e do humano na reserva dunar e encontrar expressão poética própria em registo fotográfico e escrito. Um lugar fotogénico e aberto a qualquer luz a desdobrar pela palavra: era este o exercício a que me propus com o suporte da poesia luminosa de Ana Luísa Amaral e de Sophia de Mello Breyner A..
Afinal a falar do tempo.
Tempo.Forever como no poema de Keats. Para sempre.
Humanamente até quando.
* “Biodiversidade by The Navigator Company 2022”.
https://biodiversidade.com.pt/biogaleria/dunas-litorais/ (16.09.22).
Lúcia Maria Vasconcelos Montenegro de Melo
Nasceu no Porto em 1950. Concluiu, em Lisboa, o curso do Instituto Superior de Línguas e Administração (ISLA) em 1970, tendo posteriormente exercido a profissão de secretária correspondente em línguas estrangeiras. Em 1980, concluiu o curso de Línguas e Literaturas Modernas na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). Está aposentada desde 2017 da profissão de professora do ensino secundário da disciplina de português. Interessada na ligação entre a literatura e as outras artes, concluiu em 2019, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), as disciplinas de História de Arte. Depois de aposentada, fez voluntariado no Teatro Nacional de São João e, atualmente, é membro da Associação Coração Amarelo que tem como objetivo o acompanhamento de pessoas na situação de risco de isolamento.
Encontra-se ligada a atividades das Galerias Mira desde o início do projeto (2013), designadamente, a nível da fotografia e da programação e dinamização da comunidade de leitores “Livros no Mira”.