God saved the cows

Conceição Magalhães

Parque Oriental da Cidade

God saved the cows
Na Índia, as vacas são sagradas. Vivem na liberdade dos seus pensamentos e afetos. Esperam quem lhes estenda a mão e lhes aconchegue o dorso. Ou anseiam por uma rodela de pão ou uma espiga de milho, que ruminam a seu tempo. Passeiam-se lentamente por qualquer lugar, pelas grandes vias ou por estreitas vielas. Os seus corpos enchem as ruas com volume e com o seu modo de estar no mundo. Há quem as lance ao Ganges, quando morrem, para que flutuem na eternidade. Interrogo-me, com admiração e respeito, sobre o poder das vacas e como a história as teria levado para este plano central da narrativa que organiza a vida social.
E lembro-me das representações visuais feitas na pré-história a vacas ou bisontes. Penso nos corpos dos bisontes pintados no relevo das rochas das paredes e tetos das cavernas. Penso no impacto dessas formas e volumes. Qual seria também o lugar que os bisontes ocupavam nas narrativas que formavam o substrato da vida social dessas comunidades que os representavam?
Trouxe comigo as vacas para o Porto. E sinto falta, talvez pelas memórias ancestrais que carregamos no corpo, de sentir as vacas por perto, e de um lugar maior da natureza nas histórias coletivas que partilhamos.

Arquiteta e docente de Artes Visuais na Escola Artística de Soares dos Reis, no Porto. Desde 2011, tem vindo a apresentar os seus trabalhos de fotografia em diversas exposições colectivas, das quais destaca as participações anuais no Mira Mobile Prize e nas Imagens Periféricas – Porto Pinhole Photography, organizados pelo MIRA Forum. Desde 2019, também realiza exposições individuais, destacando-se os projetos Espelho Meu (2021), integrado no Mês da Imagem do Porto (MIP-OFF) e Caminhando, integrada nos Encontros das Culturas Jucaico-Sefardita em Bragança. Os seus trabalhos constam ainda em três publicações da Associação de Fronteira para o Desenvolvimento Comunitário (RIBACVDANA), dedicadas a aspectos territoriais e culturais da região de Figueira de Castelo Rodrigo – Lenda da Marofa (2020), Bizarril Monforte (2021) e Uma Ideia de Raia (2022). Com fotografias premiadas pelos Municípios de Vila Nova de Gaia e de Paredes de Coura, também realiza apresentações sobre os seus projetos como viajante e fotógrafa.