Nota-se, em quase todos, que vão a passar ao seu próprio ritmo, ocupados na sua vida diária
sem se aperceberem que aquele pedaço de caminho, partilhado com os milhares de pessoas
que também o percorrem, funciona como uma montra perfeita para a diversidade e riqueza
daquele rectângulo do país.
No Intendente, em Lisboa, zona há muito conhecida pela sua mistura de culturas, Paulo
Pimenta encontrou num colchão branco de uma cama de solteiro, encostado à parede de uma
loja que os vende, a montra ideal para a vida que ali se amontoa. E circula, incessante.
Com o colchão como cenário, encontrou ali uma forma de projectar toda a diversidade do
local, sem precisar de sair do sítio, sem precisar de procurar as cores e cheiros e ritmos do
comércio oriundo de tantas partes do mundo, enfeites, cartazes ou adornos. Bastou-lhe
fotografar aquilo de que mais gosta: pessoas.
Elas passam, apressadas, reflectindo as origens diversas de cada uma e também este tempo
único que vivemos, de cuidados acrescidos, explícito nas máscaras que algumas carregam.
Como se desfilassem numa passarela, limitam-se a caminhar, indiferentes ao público que
somos nós, mas deixando no rasto desse instante de um movimento todo um mundo a
delinear-se nas fotografias em que estão cristalizadas. O Intendente, num colchão, nas pessoas
que o habitam, visitam ou atravessam, está todo ali.
Paulo Pimenta concluiu o curso superior de fotografia na ESAP e é fotojornalista do
jornal Público há mais de 18 anos. Em 2012 recebeu o 1o prémio de fotojornalismo
Estação Imagem e tem recebido vários prémios de fotojornalismo, entre eles em
diversas edições do Estação Imagem, na categoria de Artes e Espetáculos, como o
Prémio Internacional de Fotografia Peironcely no Festival Robert Capa em 2019, em
Madrid. Em 2021 recebeu o 1o lugar do Prémio de Jornalismo: Analisar a Pobreza na
Imprensa, com o trabalho “Os 25 anos do Rendimento Social de Inserção: O RSI não é
o sítio onde queira voltar”.
Participou em diversas exposições individuais e coletivas, destacando-se em 2018 a
exposição “Retrato das ilhas” da Rede INDUCAR, no Centro Português de Fotografia;
em 2020 a exposição “É só mais dez minutos”, no Auditório Municipal Augusto
Cabrita, e a exposição “São Pessoas”, com Adriano Miranda, no Mira Fórum; em 2021
a exposição “Corpo em Movimento”, no Centro Cultural Mala Posta; em 2022 a
exposição “As Bravas”, a partir do projeto com a Pele, no Museu Fundação Calouste
Gulbenkian e no Festival Internacional de Fotografia de Amarante.
É autor do livro “São pessoas” e “Emergência 365” em coautoria com o fotojornalista
Adriano Miranda. Tem várias publicações em livros e revistas internacionais. Tem um
vasto trabalho de colaboração em registo fotográfico, obra publicada e cenografia, com
companhias de dança e teatro, destacando-se a companhia de Pina Bausch, Companhia
Olga Roriz, Teatro Crinabel, Terra Amarela. Integra ainda inúmeros
projetos multidisciplinares de vertente social.