Se a fotografia é um espelho com memória (Oliver Wendell Holmes, 1861), uma fotografia pinhole é a evocação da imaginação preenchida por um tempo que se demora entre o desejo de quem a faz acontecer e o olhar de quem a contempla.
Se, como afirma António Guerreiro, “a fotografia mumifica o tempo”, sendo capaz de o fazer escapar à sua condição de corrupção, a fotografia pinhole deleita-se em corromper a casa do tempo e das formas que nela habitam, através de uma plêiade de gestos, qual ritual, que se prolongam num esboço de uma imagem que sugere nunca estar acabada. Por esse motivo, o reino da fotografia pinhole não se esgota no som mecânico e objetivo de um “click”, nem no instante – por mais ou menos decisivo que seja – como também não se deixa enclausurar pelo mais sedutor e previsível dos enquadramentos. Talvez porque a sua presença seja, sobretudo, superação que se insinua pelo prazer que cada um de nós pode experimentar quando constrói a sua própria câmara (que o diga António Martins Teixeira), e com ela aprende a usufruir de uma cumplicidade (entre fotógrafo e dispositivo fotográfico) que nasce cedo e cujos resultados transcendem sempre a categoria do “defeito” ou do “erro”, porque de poética se trata.
O mês de Novembro é “tempo” de pinhole no Mira, e neste durante, meia centena de fotografias irão fazer parte de uma viagem onde o “espanto” ainda é possível.
(Rui Apolinário out 2022)
Exposição coletiva resultado de uma open call internacional.
Curadoria: Adelino Marques, Augusto Lemos, António Martins Teixeira e Rui Apolinário
Exposição integrada no MIP – Mês da Imagem do Porto