No âmbito do MIP – Mês da Imagem do Porto, o programa LIVROS no MIRA é dedicado a um livro que revolucionou o modo como a arte é encarada, incluindo a fotografia. Eduardo Brito e Francisco Feio vão lançar a discussão sobre a obra.
Modos de Ver (1972) O ensaio mais influente e celebrado de John Berger, baseado na série homónima da BBC (um fenómeno de popularidade transversal a públicos), é uma reflexão, em texto e imagens, sobre o modo como as nossas ideias de beleza, verdade, género ou classe social moldam radicalmente a perspectiva que temos da realidade.
E vai além disso, levantando o véu às mensagens subliminares que o poder, a propriedade, a dominação masculina ou a objectificação da mulher deixaram na nossa cultura, dos quadros a óleo à publicidade do século XX. Ao fazer notar que, quando observamos uma pintura ou fotografia, também nos observamos a observá-las, filtrando-as pelas nossas emoções e experiências, Modos de Ver faz de cada olhar uma crítica – um acto empático, político e poderoso.
Em raciocínios clarividentes, Berger percorre a história da arte e democratiza a sua crítica – demolindo os muros entre alta e baixa cultura -, consciente do seu curioso poder de encontrar entre nós semelhanças onde parece só haver diferenças. (Antigona Editora)
JOHN BERGER
John Berger (1926-2017), crítico de arte, pintor e escritor inglês, ícone da contracultura e um dos pensadores mais influentes dos nossos dias, avançou contra a corrente num tempo de especialistas e especializações. Em quadros, ensaios, poemas, ficções, argumentos para cinema ou programas de televisão, foi plural também nas suas inspirações, tomando interesse nas franjas da sociedade (os presos, os camponeses, os migrantes) como exemplos de resistência em face da ignomínia de governos e mercados. Foi para escapar a essa infâmia, aliás, que Berger se exilou durante mais de 50 anos na França rural. Ganhou o Prémio Booker em 1972 com o seu romance experimental feminista G., e o seu ensaio mais famoso, Modos de Ver, escrito nesse ano após o êxito retumbante da série homónima da BBC, é uma referência na crítica de arte ainda hoje estudada por académicos e redescoberta pelo público. Com um olhar curioso sobre o mundo, com os pés assentes na terra e as mãos a revolvê-la, soube como poucos expor, ao longo da obra e da vida, as suas convicções políticas, contradições e metamorfoses.
NOTAS BIOGRÁFICAS
Francisco Feio, nasceu em Lisboa em 1962. Formou-se em pintura na ESBAL, mas o seu trabalho tem sido desenvolvido em torno da linguagem e dos suportes fotográficos, com especial incidência, nos últimos anos, numa vertente mais experimental cruzando processos tradicionais e alternativos com tecnologias digitais. Para além da prática fotográfica e do seu ensino, investiga nas áreas de história, estética e filosofia da fotografia e tem igualmente produção escrita sobre a disciplina.
Eduardo Brito trabalha em cinema, fotografia e escrita. Tem o mestrado em Estudos Artísticos, Museológicos e Curadoriais pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, com a dissertação Claro Obscuro – Em Torno das Representações do Museu no Cinema. Fez especialização em guionismo na Escuela Internacional de Cine y TV, em Cuba. Ensina regularmente, como assistente convidado, na FBAUP.
Realizou as curtas metragens Penúmbria (2016), Declive (2018), Ursula (2020), La Ermita e Lethes (2021). Escreveu o argumento da longa O Pior Homem de Londres (Rodrigo Areias, 2022), das curtas O Facínora (Paulo Abreu, 2012), A Glória de Fazer Cinema em Portugal (Manuel Mozos, 2015), Catherine ou 1786 (Francisca Manuel, 2017) e O Homem Eterno (Luís Costa, 2017) e, com Rodrigo Areias, das longas Hálito Azul (2018) e A Pedra Espera Dar Flor (também com Pedro Bastos, 2022)